sexta-feira, 20 de abril de 2012

FILHOTES DE BROMÉLIAS


Estávamos sentadas na varanda. Uma querida amiga e eu. Era de noite e, apesar do outono abafado, havia uma brisazinha gostosa que vinha lá dos lados da Enseada de Botafogo. Estávamos botando os assuntos em dia quando, de repente, ela me perguntou Você tá bem feliz aqui no Rio, né?. Uma pergunta/afirmação assim de chofre. Uma pergunta que já era resposta e celebração.

Sorri de lado. Às vezes eu dou um sorrisinho de lado. E, assertiva, respondi,  Tô. Muito!  Mas depois complementei Acho que estou.

E aquele Acho que estou ficou rodando na minha cabeça.

Ela foi embora e fiquei remoendo a resposta... Acho que estou... Acho que estou...

Foi invadida por um mundo de perguntas bisbilhoteiras. Afinal, ser feliz é o mesmo que estar feliz? A gente pode ser feliz e não estar feliz? E o contrário também funciona? Estar feliz e não ser efetivamente feliz? E se eu fosse inglesa ou francesa? Essas questões cheias de sutilezas se perderiam em um só verbo? To be or not to be... C´est là la question!

Não tenho pretensões de filosofar. Só fiquei remoendo a resposta.


Por que, afinal, o que é mesmo a felicidade? O que é ser feliz de verdade? Acho que cada um vai ter sua resposta para estas perguntas. Respostas pessoais e intransferíveis.

E olha que nem estou colocando na mesa a alegria. Que é outra coisa. Ou será a mesma? Ou será a causa ou a consequência da ou para a felicidade? (Se dependesse de mim alegria vinha sempre em letra maiúscula... ALEGRIA... Existe palavra mais feliz que esta?) 

Já disse, não quero filosofar. Só fiquei assuntando. Remexendo meus baús. Revisitando emoções. Me perscrutando para saber de onde tinha vindo aquela resposta Acho que estou.

Será que a felicidade passa por uma avaliação racional onde você pensa, acha, acredita que é ou está feliz? (Ai, esses dois verbos me atrapalham agora!)

Ou será a felicidade algo instintivo... genético... antropológico? O individuo é feliz porque nasceu feliz. Faz parte da tribo dos felizes.

Sei lá. E nem quero filosofar sobre isto. Eu só sei...   




... que um dia eu ganhei uma bromélia amarela e com ela dividi deliciosos momentos. Ela foi uma companheirona. Muitas vezes nos entreolhávamos e eu sabia que ela me compreendia e estava por perto.

Eu a regava. Conversava com ela. Limpava o vasinho, sua morada. E ela me retribuía existindo... sendo amarela... tendo umas folhas verdes e descabeladas. E mesmo quando feneceu... (Foi ficando marronzinha, marronzinha, até que a empregada a arrancou do vaso. Eu não tive coragem.) ... E mesmo quando feneceu, me deixou filhotes, que se espalharam por minha varanda.

E, todos os dias, eu os rego. Falo com eles. E limpo seus vasinhos.

Acho que a felicidade tem muito a ver com essa bromélia amarela. Mesmo quando fenece, deixa seus brotos. E cabe à gente jogar o vaso fora ou replantar as mudinhas. E rega-las. E falar com elas. Limpando sempre seus vasos.

E aí, não importa se a gente é feliz ou acha que é feliz, porque sempre vão surgir outras bromélias amarelas. Amigas. A nos fazer companhia e a nos compreender com um olhar.

Sabe, não sei bem se a isso se pode chamar de FE-LI-CI-DA-DE, mas tenho certeza  que isso tem um nome e que todo mundo conhece. Isso se chama VIDA!

Nota: Este texto é dedicado a  Lourdinha Carnaval, minha companheira inseparável de tantos momentos felizes.



[Quem quiser saber mais sobre Lourdinha é só buscar no blog os textos: LOURDINHA CARNAVAL (fevereiro, 2011) e UMA FÁBULA (agosto, 2011)]

(in pblower-vistadelvila.blogspot)

2 comentários:

Celina disse...

A primeira resposta é a que vale. Aquela que a gente dá na hora, na "chuncha". Depois a gente avalia com a a razão e vem um monte de "se". E quem encontra afeto numa bromélia, meu bem... já nasceu pra ser feliz! Mas felicidade é como ginástica. Só faz efeito se a gente se esforçar.

Eulalia disse...

Primeiro, que adorei a idéia da tribo dos felizes...

depois, que adorei a idéia das mudas... e amarelo faz todo sentido, nesse particular... luz e sol, alegria e flor...

fico com a tribo e com as mudinhas, nesse texto impecável!